2010-10-15

A chicotada psicológica

Até prova de contrário, a "chicotada psicológica" funcionou.

O organismo que gere as Selecções Portuguesas de Futebol e Futsal elegeu e contratou para Seleccionador Nacional da equipa principal o treinador Paulo Bento, após a cessação do contrato com o (agora) ex-Seleccionador Carlos Queiroz.

Só num mundo de ilusão se pode pensar que "passar de bestas a bestiais" é algo que pode acontecer instantaneamente. Mas o adepto português está, de facto, a viver essa ilusão.

Após o "namoro" com José Mourinho (e do excelente e apaixonado/apaixonante texto publicado pelo treinador do Real Madrid), ficou certo que a FPF (essa entidade que viu suspenso em Abril último o estatuto de "Entidade de Utilidade Pública" por período de um ano) teria de partir para uma solução definitiva que não a solução transitória que primeiramente foi tornada pública.

Todos esperamos que Paulo Bento não tenha sido uma segunda escolha.

O que é facto é que duas vitórias claras por 3-1 colocaram a Selecção Nacional na corrida pelo apuramento (directo ou não) para o Euro 2012.

(c) Jornal de Notícias

Se nos focarmos no que realmente aconteceu, em termos de equipa utilizada, podemos enunciar:

- no terceiro e quarto jogos da qualificação, o "11 inicial" da Selecção foi: Eduardo (G); João Pereira (DD), Pepe (DC), Ricardo Carvalho (DC), Fábio Coentrão (DE); João Moutinho (MC), Raúl Meireles (MC), Carlos Martins (MC), Nani (MAD), Cristiano Ronaldo (MAE) e Hugo Almeida (A).
- as posições onde jogaram outros jogadores, nos dois primeiros jogos, foram: (DD) Sílvio e Miguel, (DC) Bruno Alves, (MC) Manuel Fernandes, Miguel Veloso, Tiago, (MAE) Danny e (MAD) Ricardo Quaresma.

Na verdade, os dois primeiros jogos trouxeram resultados inéditos (pela negativa) na história da Selecção Nacional, mas será que foram as mudanças feitas dentro de campo que fizeram toda a diferença?

Fizeram diferença, sim.
Toda a diferença, não.

Não por uma questão simples de melhores qualidades futebolísticas, mas porque, em dose equilibrada, "injectaram" uma nova energia e motivação em todos os jogadores seleccionados... um novo começo, uma nova hipótese de mostrar a uma nova pessoa/treinador e equipa técnica que "sou" (este "eu" é dos jogadores) um jogador com qualidade para jogar, independentemente do que aconteceu no passado.

Como já foi referido por muitos, e dá-se como exemplo a entrevista que o jornal "A Bola" fez a Vítor Baía, "(...) nestes dois jogos, os jogadores deram imagem mais próxima do que valem e mais reveladora. Jogar por Portugal representa sempre um grande estímulo. Foram duas finais ganhas (...)".

Certo, psicológicamente, houve uma explosão de energia.
Aaahhhh... então é daí que vem a expressão "chicotada psicológica" !

Nem mais. Foi isso mesmo.

Enquanto adepto de futebol (e da Selecção Nacional), todos deveriam ter ficado com a sensação de que há uma dívida de gratidão por saldar com Carlos Queiroz, Agostinho Oliveira e suas equipas técnicas.

Hostilizámos (FPF, imprensa, adeptos...) pessoas que defenderam os interesses da Federação e que vivem dependentes de resultados (ai se isto acontecesse nas empresas... havia "chicotadas" todos os anos!).

O facto do agora ex-Seleccionador ter tido uma atitude proteccionista e de excesso de zelo no que diz respeito a controlos anti-doping tornou-o 'persona non grata' na FPF, quando deveria ter sido esta entidade a primeira a defendê-lo, mesmo compreendendo que tem de se aceitar a punição prevista na Lei.

O facto de as coisas terem corrido mal ao substituto interino (o que poderia nem ter sucedido, se o nosso guarda-redes não tivesse, literalmente, oferecido um golo em cada um dos dois primeiros jogos) não o desmerecem e a FPF deveria ter defendido e agradecido em alta-voz a disponibilidade e dedicação manifestadas.

Mas, muito infelizmente, não aconteceu.

E o que podemos dizer de uma organização que "não defende os seus"?
Só anda "a toque de chicote".

É um pouco a imagem do futebol português...

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