2013-02-18

I wanna be like Mike!

Mais do que uma simples frase, é uma expressão traz consigo um sonho de crianças, teenagers e adultos, de serem como Michael Jordan, o mais-que-provável melhor basquetebolista de sempre, que ontem completou 50 anos.

Mas porque quereriam todos ser como o Mike?
Isso já acontecia ainda antes de ganhar um título da NBA (demorou 7 anos a consegui-lo), Michael subiu todos os degraus na escada do sucesso… e tudo terá começado no quintal de casa dos pais, quando começou a ganhar regularmente ao irmão Larry e a pôr na cabeça se lhe ganhava a ele, poderia ganhar a qualquer um.

Apesar de alguns contratempos, como o ter sido rejeitado na equipa da escola secundária, Michael perseverou e em 1982, no ano de caloiro na faculdade (Universidade da Carolina do Norte, com os “Tar Heels” do super-exigente treinador Dean Smith), foi ele quem marcou o cesto decisivo para a conquista do título universitário contra Georgetown (onde jogava um tal de Pat Ewing, que também viria a ser uma lenda da NBA).



Quando, em 1984 e após a conquista do ouro olímpico, entrou para os Chicago Bulls e para a NBA (onde “reinavam” Larry Bird, dos Boston Celtics, e Earvin “Magic” Johnson, dos Los Angeles Lakers), Michael “electrizou” os EUA de imediato – naquela altura, a liga ainda vivia uma época de recuperação financeira encetada pelo comissário David Stern (que hoje ainda se mantém no cargo) e não era assim tão popular na Europa, Ásia ou América do Sul.

Mas, embora os prémios individuais se sucedessem nesses primeiros anos (rookie do ano, melhor marcador, campeão do concurso de afundanços, melhor jogador defensivo, melhor jogador da época regular, melhor jogador do jogo das estrelas - “All-Star”), Michael sabia que o maior degrau ainda se lhe deparava: levar os Chicago Bulls ao título.

Na vertente de marketing e publicidade, tudo corria pelo melhor com as bebidas energéticas da Gatorate, os cereais matinais da Wheaties e, acima de todos, com os sapatos da Nike, empresa com a qual ele tinha até desafiado o status-quo da NBA, ao usar sapatilhas que não tinham a cor branco como a lei de então obrigava (eram vermelhas e pretas, cores dos Bulls); por cada noite em que usava as sapatilhas, Michael enfrentava uma multa de 5000 dólares, mas a Nike viu aqui um grande potencial de retorno, não só pagando as multas sucessivas (a época da NBA tem 82 jogos!) mas criando, ao mesmo tempo, uma colecção de anúncios onde o sapato proibido aparecia com uma cruz cinzenta e, sem referência à Nike, apenas aparecia a indicação “$5000 de multa por jogo”.

Desde esse momento, os sucessivos modelos Nike Air Jordan (um por cada ano) tornaram-se objecto de culto e, com o tempo, best-seller à escala global.

Nas ruas, miúdos e graúdos calçavam e vestiam “Air Jordan”, sabiam de cor as suas estatísticas, melhores jogadas, detalhes da vida pessoal, tudo o que se possa imaginar sobre um ícone, e assim se tornava comum ouvir dizer: “I wanna be like Mike!” (eu quero ser como o Mike!).

Entretanto, dentro do campo, os Bulls cresciam e só faltava ultrapassar os “Bad Boys” de Detroit para a desejada viagem às Finais da NBA. Depois de eliminações por 4-2 e 4-3 em 1989 e 1990 (eliminatórias à melhor de sete jogos), Michael Jordan e os Bulls vingaram as sucessivas derrotas com um claro 4-0 em 1991 nas Finais da Conferência Este... as Finais da NBA tiveram pouca história e os jovens Bulls “atropelaram” os Lakers por 4-1, com a curiosidade de saírem de Chicago com a eliminatória empatada 1-1, vencerem os 3 jogos em Los Angeles e aí festejarem o primeiro título.

Em 1992 (4-2, contra Portland) e 1993 (4-2, contra Phoenix), Chicago voltou a triunfar e os três títulos consecutivos ficaram ao nível de feitos apenas conseguidos pelos Celtics (8 consecutivos) e Lakers (3 consecutivos), esses antes de 1966.


Pouco depois da conquista desse “three-peat” e da morte trágica do seu pai, James (assassinado por 2 assaltantes que lhe roubaram o carro), Michael anunciou que se retirava do basquetebol para buscar novas motivações, novos desafios, nomeadamente no baseball, sua paixão de infância, ou mesmo no cinema, com a presença em “Space Jam” onde, com a ajuda de Bugs Bunny e os demais Looney Tunes, consegue salvar a Terra de ser tornada prisioneira de um civilização extra-terrestre.

Quanto aos três títulos consecutos, até hoje, só uma equipa repetiu o feito... os Chicago Bulls de Michael Jordan – regressado após 18 meses de ausência – entre 1996 e 1998 (uma vitória sobre Seattle e duas sobre Utah, todas por 4-2), numa altura em que muitos o consideravam já velho (conquistas entre os 33 e 36 anos), algo que ele soube contrariar, inclusivamente conseguindo o melhor recorde de sempre de vitórias numa época, com o fantástico 72-10 de 1996, recorde que ainda perdura.

A pressão, nesses três anos, foi enorme sobre Michael, sobre o treinador Phil Jackson e sobre toda a equipa, que agora incluía três ex-Bad Boys, com o notável e excêntrico Dennis Rodman à cabeça (a absorção deste foi um desafio adicional, até porque, além da personalidade sui generis, Rodman era odiado em Chicago por ter cometido alguns excessos contra Scottie Pippen dentro de campo, enquanto jogador de Detroit).

Mas não só isso, também se sabia que Michael Jordan gostava de jogar (os media falavam que ele seria viciado em apostas e casinos) e inclusive, numa véspera de jogo em Nova Iorque, Michael teria sido visto a jogar em Atlantic City (a Las Vegas da costa este) e sido altamente criticado por não dar o exemplo. É claro que isto era o que ele adorava, desafios todos os dias... a resposta foi simples e silenciosa: 54 pontos em pleno Madison Square Garden e mais uma vitória dos Bulls.

Depois desses três anos, a fatiga era notória (mais até ao nível pessoal que profissional) mas a nova viagem até ao mundo da reforma acabou por durar pouco mais do que três anos, porque Michael, após esse tempo mais afastado de todo o mediatismo que o envolvia antes, ainda tinha sede de mais, ainda via novos desafios, novo degraus para subir na sua vida.

Decidiu então, em 2001, juntar-se aos Washington Wizards, doando o seu salário para uma organização de apoio a vítimas do 11 de Setembro.



Durante as duas épocas numa das piores equipas da NBA, Michael continuou a ser o competidor voraz, crítico dos colegas que não se atiravam para o chão para recuperar uma bola ou que não chegavam a horas aos treinos e eram os primeiros a sair; ele, como já todos sabiam, dava sempre tudo por tudo, mesmo numa equipa que não conseguia sequer passar aos Playoffs, foi o melhor marcador da equipa nesses dois anos e o único jogador com mais de 40 anos a conseguir marcar mais de 40 pontos num jogo (também tem o recorde de ser o jogador mais velho da NBA a conseguir 50 pontos num jogo, algo que conseguiu 2 meses antes de completar 39 anos).

Desde a sua reforma definitiva em 2003, o seu sucesso empresarial tem sido notável (as marcas “Air Jordan” e “Jumpman” continuam a vender muitíssimo bem e vários actuais jogadores da NBA as usam), tendo já sido capa da Forbes e Fortune, após passar a barreira dos 100 milhões de dólares de riqueza pessoal.

Os desafios não param para Michael Jordan, que quer transformar a equipa do seu estado natal, os Charlotte Bobcats, numa equipa de topo (ainda falta muito para isso, até porque a equipa bateu o ano passado o recorde de pior registo percentual de vitórias/derrotas com apenas 10% de vitórias, pior que os 11% dos 76ers de 1973), mas isso não o deterá, é certo.

E é nesta perspectiva actual que é homenageado, em dia de “All-Star Game”, pelos seus 50 anos de vida.

Agora, como há 25 anos atrás, o “I wanna be like Mike” mantém-se actual, inspirador e sinónimo de ânsia pelo desafio, pela auto-superação, pelo sucesso.

Parabéns, Michael Jordan... conta muitos!


NOTA: este texto corresponde ao draft de um artigo escrito para o P3 do Público que, por razões editoriais, não poderia ter um conteúdo tão extenso. Esse artigo está disponível em:
http://p3.publico.pt/actualidade/desporto/6728/quero-ser-como-o-mike