2007-01-14

O sangue de Brecker

Já há uns tempos que não escrevia sobre música. E o que escrevo hoje não me dá prazer nenhum.

Faleceu ontem, dia 13 de Janeiro de 2007, Micheal Brecker, músico de jazz. Micheal Brecker (1949-2007)

Pois muito bem, poderão dizer que tocava saxofone tenor, mas Brecker abarcava mais do que o seu instrumento de eleição (já nos tempos de escola tinha começado pelo clarinete e passado pelo saxofone alto).

Enquanto criança que ouve música, descobri-o no álbum "City Streets" de Carole King, onde na primeira música (com o mesmo nome) sucede a Eric Clapton para um solo bem ao seu estilo.

Mas se Brecker pode ser considerado um intérprete de jazz, o mesmo não quer dizer que era sectário em relação ao estilo de música, em particular ao "inimigo do jazz", o rock.

O seu início de carreira, com uma banda chamada "Dreams" onde, para além do seu irmão Randy, estavam senhores como Billy Cobham (percurssão), entre outros. A banda só durou um ano, mas captou a atenção de outro senhor, chamado Miles Davis, que algumas vezes assistiu a gigs.

Depois de fundar com o irmão os "Brecker Brothers Band", juntou à banda mais dois senhores do jazz, nada menos que Thelonius Monk e Sly Stone. Esta banda entrava por um jazz/fusão que muito tinha de inovador e muito tinha de inspiração/influência de Miles Davis e Weather Report.

Como intérprete de excelência, foi muitas vezes "recrutado" como session player por artistas como Paul Simon, James Taylor, Steely Dan, Joni Mitchell, Pat Metheny ou mesmo os Dire Straits. Tocou ainda com Frank Zappa no álbum "Zappa In New York".

Curiosamente, o seu álbum de estreia a solo surge apenas em 1987. Uma aproximação mais clássica ao jazz, poder-se-á dizer. Mas Brecker não parou por aí; continuou a escrever e a tocar ao vivo com o seu saxofone Selmer Mark VI com bocal customizado Dave Guardala. Perdoem-me fazer deste parágrafo algo tão curto, mas calcularão que para conhecermos a sua discografia, muitas páginas seriam necessárias.

Em 2005, foi-lhe diagnosticada uma doença no sangue designada como Síndroma Mielodisplástico (ou myelodysplastic syndrome, MDS, em inglês) que não o fez parar. A sua actividade musical foi acompanhada por uma busca a nível mundial de um dador compatível de células estaminais para transplante. O insucesso na descoberta de tal dador (inclusivé na sua própria família) levou a que fosse tentado um tratamento experimental, que parecia estar a dar resultados até ao fim de 2006, embora tal não se tratasse de uma cura.

Ainda em 2006, Brecker voltou aos palcos, tocando com Herbie Hancock no Carnegie Hall e preparando um álbum que (eventualmente) será editado postumamente.

Michael Brecker (1949-2007)

Michael Brecker acabou por falecer em Nova Iorque, devido a complicações relacionadas com leucemia.