2006-12-01

A lei do mais fraco (parte 2)

E eis que acontece de novo. Tal como tinha acontecido no derby da Segunda Circular de Janeiro passado, o visitante e equipa que teoricamente estaria mais em baixo, venceu sem problemas. Com alguns sobressaltos como a inesperada lesão de última hora de Karyaka, mas sem problemas.

festejos...

O Sporting, a dois pontos do líder, Porto, tinha uma boa oportunidade para se colocar, ainda que provisoriamente, na liderança e deixar o Benfica a 10 pontos e praticamente arredá-lo do título, se bem que ainda haja um Benfica-Belenenses em atraso da 1ª Jornada para acertar contas.

O estádio esteve bem composto, mas não cheio, tendo (oficialmente) 44042 espectadores pagantes.

Num primeiro instante, o Sporting não teve direito a respirar; ainda se jogava o minuto 2 e já o Benfica se colocava à beira de marcar, com Nuno Gomes a aparecer a cabecear para um defesa segura de Ricardo para canto. Canto esse, já no minuto 3, que deu a Ricardo Rocha oportunidade de se antecipar a Anderson Polga e inaugurar o marcador em casa do adversário. Estava feito o 0-1.

Este golo re-desenhou o jogo. O Benfica, com dois médios defensivos mais experientes que velozes (Petit e Katsouranis) encolheu o campo perto da sua área e "obrigou" o Sporting a jogar pelo meio ou a bombear para a área, uma vez que nunca conseguia abrir a defesa ou chegar à linha de fundo. Resultado, um lance de perigo de Carlos Bueno que Quim parou bem e pouco mais.

Houve um canto em que Nani cabeceou por cima e um lance dentro da área em que Miguel Garcia ainda tentou iludir o árbitro em disputa com Simão, mas ó árbitro nem deu atenção suficiente; se o tivesse feito, Miguel Garcia teria um amarelo com toda a certeza.

O Benfica oferecia a bola ao Sporting (posse de bola, 60% - 40%) e só atacava pela certa quando Miccoli, Simão ou Nuno Assis tinham vantagem. Miccoli este muito vigiado mas foi decisivo pouco depois do minuto 35, quando após um canto a favor do Sporting e saída rápida do Benfica para o ataque, segurou a bola até ao sprint de Nuno Assis criar uma situação de 4-para-3; com Nuno Gomes mais adiantado e Assis a passar perto em corrida para o flanco esquerdo, o italiano fez um passe rasgado para a direita colocando Simão frente-a-frente com Custódio. Simão passou facilmente pelo médio adversário à entrada da área e rematou cruzado e rasteiro para o 0-2.

Minutos antes, o Benfica já havia ameaçado num lance semelhante em que teve de ser Romagnoli a ceder canto num recuperação defensiva para evitar que Simão se isolasse. E depois do golo, o Sporting desapareceu: o Benfica ainda enviou uma bola à barra, após jogada de envolvimento que culminou em assistência de Nuno Assis para remate frontal de fora da área de Miccoli. No último minuto da primeira parte, após falta sobre Petit à entrada da área, Simão marcou um livre à entrada da área contra o cotovelo de um jogador do Sporting que saíra antes de tempo da barreira; entre protestos e pedidos de penalty, a bola sobrou para Nuno Gomes que rematou rápido e rasteiro para mais uma boa defesa de Ricardo.

Com inteligência e calma (algo que terá faltado no Estádio das Antas já este ano, onde após recuperarem de uma desvantagem de 2-0 para 2-2, os benfiquistas ainda concederam a derrota nos instantes finais), aconteceu que os visitantes iam para o intervalo tranquilos e cientes que dificilmente a vitória lhes fugiria.

O Sporting fez duas trocas ao intervalo e a terceira ainda antes dos 70", mas poucas novidades trouxe ao jogo. Criou perigo em três lances (canto com boa defesa de Quim com um joelho, boa jogada de Nani que Bueno emendou com o braço ao primeiro poste sem que árbitro ou auxiliar anulassem e ainda um remate de Nani às malhas laterais), mas ficou sempre a ideia que o jogo estava decidido e controlado.

O Benfica segurava a bola melhor (a posse de bola passou para 52%-48%), sofria faltas que ainda originaram uns quantos cartões amarelos para o Sporting, inclusivé o segundo amarelo num lance em que Polga inexplicavelmente pontapeou Nuno Gomes. Contra 10, Nuno Gomes teve uma atitude ainda mais inexplicável na área adversária e ao fazer uma "tesoura" a João Moutinho que teve o devido tratamento do árbitro: vermelho directo para o avançado "encarnado".

O tempo esgotou-se sem mais golos, mas ainda com Djaló a desperdiçar a melhor oportunidade que o Sporting teve, obrigando Quim (que tinha estado à beira de ser substituido por Moretto duas vezes) à defesa da noite.

Ficha de jogo:

Estádio Alvalade XXI, 1 de Dezembro de 2006
Sporting, 0 - Benfica, 2

SPORTING:
Ricardo (6), sem culpas em nenhum dos golos, esteve bem sempre que foi chamado a intervir, quer com as mãos quer com os pés;
Miguel Garcia (4), foi regular a atacar mas abusou, como o resto da equipa, dos cruzamentos para cima de defesa adversária;
Polga (4), um jogador cheio de classe teve culpa no primeiro golo ao permitir que Ricardo Rocha corresse à sua frente para cabecear e mais tarde ao pontapear Nuno Gomes, vendo o segundo amarelo e ordem de expulsão; pelo meio, o jogador sóbrio e eficaz de sempre;o adversário soube sempre segurar o jogo
Tonel (4), regular e quase invisível; o adversário não lhe deu grande trabalho e não apareceu no ataque com em outros jogos;
Tello (6), esteve activo a tentar empurrar a equipa para o ataque e a fazer faltas quando o Benfica procurava contra-atacar; jogou com inteligência e acabou por nem sequer ser admoestado;
João Moutinho (6), é um jogador que não compromete, joga certo, mas não desiqulibra a favor do Sporting; ganhou mais bolas do que perdeu, mas não participou muito no jogo de ataque;
Cutódio (3), defendeu como era sua missão, mas esteve mal no lance do 0-2 ao "ir à queima" contra Simão que passou tranquilamente por ele; saiu ao intervalo por não ser útil à equipa;
Romagnoli (5), esteve bem e não se compreende bem porque terá saído ao intervalo; criou desiquilibrios, recuperou bolas, fez recuperações defensivas (inclusivé uma que deixaria Simão isolado) mas não foi suficiente para que o treinador o deixasse em campo;
Nani (4), é um jogador com talento mas que parece muitas vezes não saber o que fazer, não sendo objectivo e tendo dificuldades em soltar a bola; para além de um bom cruzamento e um remate às redes laterais, pouco fez;
Bueno (5), jogador com boa movimentação, criou o lance mais perigoso do Sporting na primeira parte e quase marcou (embora com a mão) na segunda; joga muito longe de Liedson e o seu entrosamento é relativamente baixo com o "levezinho";
Liedson (5), fez o seu jogo de segurar a bola e colaborar com os colegas, mas num jogo em que se abusou de "despejos" para a área adversária;
Carlos Martins (3), entrou ao intervalo, mas não conseguiu levar o Sporting ao golo, apesar de uma ou outra tentativa de remate exterior;
Yannick Djaló (3), controlado por Leo no lado direito, acrescentou velocidade mas perigo apenas a um minuto do fim, quanto rematou frontalmente perto da marca de penalty obrigando Quim a boa defesa;
Alecsandro (1), ainda jogou meia hora, mas não fez nada que justificasse mênção.

BENFICA:
Quim (6), é um guarda-redes que não dá confiança à equipa, nunca agarra uma bola nos cruzamentos, mas revela bons reflexos; fez a defesa da noite aos 89' e outra boa intervenção com o joelho no início da segunda parte;
Nélson (7), foi um grande impulsionador do ataque do Benfica pela ala direita; sendo muito rápido e ágil, é frequentemente melhor a atacar que a defender;
Luisão (6), é o partão da defesa do Benfica, até em noites que tem exibições discretas como a de hoje; compensa a falta de velocidade com bom posicionamento e toque de bola;o melhor em campo
Ricardo Rocha (8), um poço de força, cheio de atitude e decisão; depois de vários anos sem um único golo, marcou o segundo em três semanas e foi sempre rápido e simples a defender; foi o melhor em campo;
Léo (7), é provavelmente dos jogadores a actuar em Portugal, um dos que melhor entende o jogo, tornando muitas coisas fáceis mesmo contra adversário mais jovens, mais rápidos ou mais altos; um jogo ao seu estilo;
Petit (6), o "mouro de trabalho" do costume, sempre atento e pronto a distribuir jogo, ao contrário da maioria dos trincos que só destroem;
Katsouranis (6), esteve regular a defender e a integrar-se no ataque e foi, pela primeira vez na época, substituido, embora tal tenha acontecido aos 89';
Nuno Assis (6), entende bem o jogo e faz muito bem a "ponte" entre a defesa e o ataque; defende bem, ajudando um dos laterais com assiduidade;
Simão (8), além do excelente golo que marcou, é um jogador decisivo que está presente em todas as jogadas ofensivas, sendo um "vadio" para lá do meio-campo; a defender, não se furta ao esquema desenhado pela equipa técnica;
Nuno Gomes (4), estava no segundo poste em ambos os golos, mas esteve algo ausente, aparecendo apenas a segurar a bola no meio-campo, algo que faz com mestria, e, infelizmente, no lance em que mereceu o "vermelho directo";
Miccoli (5), jogando claramente diminuido, fixou sempre o "seu" marcador, jogando mais como pivot (fixo) do que em movimento, como é habitual; fez um passe excelente para Simão no segundo golo e foi "poupado" aos 70 minutos, recebendo uma grande salva de palmas;
Paulo Jorge (2), entrou a substituir o italiano e cumpriu, segurando a bola no frlanco direito;
Karagounis (1), entrou para o lugar do compatriota Katsouranis e esteve ainda em duas jogadas de ataque, sabendo pensar o jogo;
Beto (-), entrou só para queimar tempo e nem chegou a tocar na bola.

Golos:
0-1, Ricardo Rocha, 3';
0-2, Simão, 36'.

Disciplina:
CA, Anderson Polga, 40';
CA, Simão, 40';
CA, Katsouranis, 57';
CA, João Moutinho, 77';
CA + CV, Anderson Polga, 81';
CV, Nuno Gomes, 83'.

Arbitro:
Jorge Sousa (8), acertou mais do que errou, o que é uma virtude, mas não se soube impôr num jogo que até foi fácil; não havia necessidade de "amarelar" Polga e Simão por uma picardia, quando Bueno tinha feito pior a Leo; o amarelo a Katsouranis também parece excessivo e talvez Quim também merecesse um cartão por ser sempre algo vagaroso nas reposições.

OBS.: avaliação com notas de 1 a 10