2009-12-21

Erro de observação, ou de critério ?

Perdoem-me a imodéstia, mas hoje vou conseguir provar que o assunto mais importante do Benfica-Porto não foi criteriosamente observado, como deveria, por quem de direito. Aliás, neste aspecto, trata-se da constatação de algo que frequentemente acontece no jornalismo nacional (desportivo e não só).

Este fim-de-semana futebolístico foi vermelho.
Só o mais desatento, ou porventura desinteressado, não saberá que o Benfica venceu o Porto em futebol (1-0, mas também em basquetebol por 78-72), tendo goleado o Freixieiro (10-1) em futsal.



Voltando à variante de 11 e mudando um pouco de tom de vermelho, o Sp. Braga é, pela primeira vez no seu historial, coroado "Campeão de Inverno" ao chegar ao final do ano de 2009 no primeiro lugar do campeonato, fruto de 10 vitórias, 3 empates e apenas 1 derrota, registo igual ao do Benfica, relegado para segundo pela derrota (0-2 em Braga) no confronto directo.

Com tanto assunto positivo para comentar, com tantas incidências desportivas para esmiuçar, com um clássico que foi um bom jogo de futebol, teve duas equipas que lutaram para ganhar, esgrimindo os seus argumentos num campo que também se foi tornando obstáculo com o decorrer do jogo e que tanto deu para ver e comentar, os "nossos" canais de televisão, postos de rádio, sites online e jornais desportivos conseguiram não ver o que melhor deveriam ter observado.

Infelizmente, porém, o jornalismo desportivo em Portugal está em vias de extinção, moribundo, quase morto e defunto.

Quem viu o rescaldo do jogo terá ficado com a ideia que os dois eventos mais importantes da noite terão sido o golo de Saviola e o que se passou no túnel. Principalmente o que se passou no túnel, porque a única pergunta em comum a todos os que estiveram no "Flash Interview" foi exactamente essa.

Quem começou ?...
O que se passou ?...
Mas um dos agressores era suplente e foi expulso ?...
Houve sangue ?... (esta última é da minha autoria, perdão!)

De facto, os veículos da notícia (jornalistas e mass media) não são hoje veículos de verdade, são transportadores de pequenos flashes (remotamente parecidos com notícias) que visam colar o telespectador ao sofá, na esperança que por ali fiquem ininterruptamente durante jogos e intervalos (cada um com N anúncios a prendas de Natal capazes de fazer mais dano ao bolso do português do que qualquer Orçamento Rectificativo ou Acordo de Concertação Social).

Num jogo em que, para os profissionais que o acompanharam, o cartão amarelo ao David Luiz foi igual ao do Christian Rodriguez ou a "bola na mão" do Cardozo foi igual à “mão na bola” do mesmo Christian, era esperado que não vissem o que realmente se passou.

E o que se passou foi um erro de observação da equipa de arbitragem que não interrompeu a jogada que daria o golo solitário do jogo.
E o que se passou foi um erro de critério de todos os jornalistas que passaram tempos infindáveis a falar "disto e daquilo" e não se focaram no que é mais importante.

De facto, na jogada que precede o golo, em que Alvaro Pereira evita o golo de Cardozo, quando a bola é lançada da para a área, Saviola chega a tocar nela antes do toque de calcanhar de Urreta. No momento em que Saviola toca ao de leve na bola, Urretavizcaya está completamente fora-de-jogo.



Não é estranho que o árbitro auxiliar não tenha visto, dado que o toque de Saviola é mínimo, o mesmo se passando para o juiz principal.

O que é estranho é que a tantos "olhos de lince", tantas "mentes iluminadas", tantos "proeminentes comentadores" que passam horas a escalpelizar detalhes decisivos, tenha escapado tamanho pormenor.

O que fica provado é que o Benfica e o Porto são duas boas equipas de futebol que falham ocasionalmente; o que fica provado é que estas e outras equipas portuguesas têm bons jogadores que erram regularmente; o que fica provado é que temos bons árbitros que se enganam todos os fins-de-semana.

Mas a todos estes, dou o benefício da dúvida... têm de decidir no momento, estão sobre a pressão de milhares de olhos ao vivo e milhões em casa. Trabalham durante toda a semana para decidirem o futuro em 90 minutos, são avaliados ferozmente... num dia são "zeros", no outro "heróis".

Quanto aos jornalistas, não se pode ser tão benevolente.
Uns vão mal preparados, outros não percebem do assunto, muitos tratam muito mal a Língua Portuguesa e falam sem qualquer conhecimento de causa (se o tivessem, eram treinadores!), quase nenhum se sabe colocar perante uma câmara... enfim, um rol de incompetências de bradar aos céus. Mas a culpa não é só deles... é, claramente de quem os coloca lá, de quem faz deles "tartarugas num poleiro".

Resultado justo e claro.
Mais uma vez, o Futebol "goleia" o Jornalismo.
Futebol 3-0 Jornalismo.