2006-01-28

A lei do mais fraco

Aconteceu de novo. Aquele que foi considerado o rival mais fraco e em pior forma, durante a semana que antecedeu este derby, venceu. E fê-lo sem problemas. Com alguns sobressaltos, é verdade, mas sem problemas.

simão nunca conseguiu escapar com sucesso à defesa do sporting...


O Benfica vinha de uma série de bons resultados (que para além da Liga e Taça, incluiam a eliminação do Manchester Utd da Liga dos Campeões após a vitória por 2-1 na Luz sobre os ingleses) a esperada 7ª vitória consecutiva não aconteceu. Porque o Sporting foi melhor e porque, valha a verdade, o Benfica foi pouco inteligente a segurar a vantagem (injustamente) conquistada.

O Sporting mandou sempre no meio-campo... com João Moutinho e Carlos Martins nos seus estilos habituais (Moutinho, certinho e enérgico e Martins, buliçoso e empreendedor), o Benfica nunca se adaptou. mais alto que a defesa encarnada... Principalmente porque Beto fez de Petit um homem só.

No resto, calma e classe de Polga vs insegurança de Alcides, velocidade e eficácia de Liedson vs incapacidade de Nuno Gomes, enfim, um conjunto de factores e exibições que fizeram do resultado algo normal, quando tal não se previa.

Na verdade, só a sorte do jogo poderia dar a vitória aos encarnados. E ela surgiu, num lance em que Custódio se faz mal à bola (que teve uma trajectória esquisita, diga-se) e a toca/desvia com o braço. Penalty bem transformado por Simão, a jogar "uns furos abaixo" do que nos habituou e do que se exige para um jogador do seu nível.

Mas chegou a segunda parte, e com ela a justiça do jogo e consequente descida à realidade. Em três lances, insegurança e falta de decisão puseram no marcador a diferença entre os conjuntos.

No primeiro, Beto não cobriu a bola convenientemente e, quando a tentou chutar (com toda a força que tinha, aparentemente), já Liedson a tinha desviado para a cabeceira. Penalty quase tão ridículo quanto visível para o fiscal-de-linha, que prontamente a indicou ao juiz principal. Sá Pinto atirou bem, Moretto adivinhou, e o Sporting atingiu o 1-1.

No segundo, Luisão deixou Liedson levar a bola para onde quis, deixou-o fintar "para dentro" em vez de o "convidar" a ir para a linha de fundo, e o brasileiro do Sporting fez um golo tão simples quanto bonito.

No terceiro, o "dois-em-um". Primeira asneira foi a de Alcides (inseguro desde o apito inicial) a perder a bola e depois Moretto a demorar uma eternidade a sair dos postes... o brasileiro que já tinha contornado Luisão no segundo golo, contornou mais dois brasileiros com calma e segurança, fechando o resultado.

Poderá parecer que só foi demérito do Benfica, mas não. O Sporting criou outras ocasiões de golo (na primeira e segunda partes) por mérito próprio e foi por mérito próprio que venceu o jogo. Curiosamente, o Benfica é que (também) perdeu por demérito próprio, porque quando o Sporting construiu lances de golo, por esta ou aquila razão o marcador não funcionou; foi só quando os encarnados "ofereceram" que os verdes-e-brancos "festejaram".

Ficha de jogo:

Estádio da Luz, 28 de Janeiro de 2006
Benfica, 1 - Sporting, 3

BENFICA:
Moretto (4), pouco interventivo e retraído no seu primeiro jogo entre "grandes"; mostrou inexperiência com o terceiro golo, depois de ter feito duas boas defesas na primeira parte;
Alcides (3), uma quase nulidade na marcação e posicionamento; ausente no ataque; culminou com a assistência para Liedson no terceiro golo;
Luisão (5), ficou "muito mal na fotografia" do segundo golo do Sporting, mas até então tinha sido dos poucos a revelar alguma calma e classe;
Anderson (5), ao contrário de Luisão, esteve estranhamente inseguro; sem comprometer, fez um jogo apagado;
Nelson (4), fora do seu lugar, não rende (nem a defesa esquerdo, nem a extremo direito); tem estofo de grande jogador, mas é ainda muito imaturo;
Beto (1), apenas ocupou espaço no meio-campo; perdeu bolas em vez de as conquistar e falhou passes a dois metros; claramente, o "pior em campo";
petit foi o único a conseguir suster o ímpeto do sporting... mas esteve em clara minoria !Petit (6), o melhor "encarnado" em campo, lutou o que pode, sem sucesso nem resultados práticos;
Giovanni (4), de novo sem posição fixa, não encontrou espaços para o seu tipo de jogo "diluindo-se" na defesa adverária;
Manduca (3), tal como o guarda-redes, acusou a inexperiência e passou ao lado do jogo sem ter feito nada de relevante;
Simão (5), marcou o penalty exemplarmente, mas em jogo jogado fez muito pouco, transportando algumas vezes a bola e ajudando na defesa;
Nuno Gomes (5), trabalhou perdido na defesa adversária, ganhando alguns lances e perdendo outros, mas sem criar o perigo que se prentendia;
Manuel Fernandes (3), meia-hora em campo a fazer o que Beto não tinha feito; ainda assim, o Benfica não ganhou o meio-campo;
Marcel (1), entrou mas foi como se não tivesse entrado;
Robert (1), doze minutos a jogar um jogo perdido.

SPORTING:
Ricardo (6), teve uma noite tranquila com pouco trabalho; mostrou mais do que uma vez a qualidade de jogo que tem com os pés; não teve hipóteses no penalty; guarda-redes seguro festou três golos dos colegas...
Abel (5), ganhou e perdeu lances, não comprometendo nem sendo factor de desiquilibrio, pode-se dizer que cumpriu;
Anderson Polga (7), tranquilo e senhorial, mostrou porque é provavelmente o melhor central a actuar em Portugal, com os pés principalmente;
Tonel (5), ao lado do brasileiro campeão do mundo, tudo parece mais fácil; e foi sobre essa condição que teve uma exibição certa;
Caneira (6), mostrou experiência e calma no regresso à Luz, na posição em que foi mais utilizado nesse período;
Custódio (3), presença discreta com algumas faltas a mais e passes perdidos; foi infeliz no penalty, uma vez que o toque é notório mas parece involuntário;
João Moutinho (6), fechou bem a zona média e avançou sempre que pode, mostrando que é um jogador em crescimento;
Carlos Martins (6), tal como o seu colega do meio-campo, recuperou e municiou o ataque, na zona onde o Sporting mandou no jogo;
Sá Pinto (4), foi um capitão sem nível; sendo a referência dentro de campo para os colegas, protestou demais, perdeu bolas demais e foi incorrecto (mais do que uma vez) para com o público e banco benfiquista; por pouco permitia a defesa de Moretto no penalty que transformou;
Deivid (5), perdeu alguma da confiança que tinha no início da época, dada a menor utilização, mas é um jogador de classe, embora o tenha mostrado apenas a espaços;
liedson silenciou o estádio da luz Liedson (8), o "levezinho" foi a estrela da companhia, pelos dois golos cheios de mérito pessoal e pelo que trabalhou em acções de ataque e defesa; ganhou algumas bolas mas principalmente obrigou a defesa adversária a perder ou afastar a bola sem construir ataque; foi o melhor em campo;
Nani (4), entrou fresco para o lugar de Carlos Martins e o Sporting manteve o domínio a meio-campo; não teve grandes rasgos;
João Alves (2), entrou para segurar o meio-campo, quando o Benfica tentou atacar; esteve discreto no pouco tempo em campo;
Miguel Garcia (-), entrou nos descontos para queimar tempo.

Golos:
1-0, Simão, 28' (g.p.);
1-1, Sá Pinto, 65' (g.p.);
1-2, Liedson 74';
1-3, Liedson 83'.

Disciplina:
CA, Caneira, 34';
CA, Petit, 88';
CA, Anderson Polga, 90'.

Arbitro:
Pedro Henriques (10), espectacular sem se ter dado por ele (é isto que se pretende de um árbitro); se errou em uma ou duas faltas a meio campo, foi muito, porque ele foi um modelo de perfeição; além do mais, a forma como dialoga com os jogadores e árbitros assistentes, ajuda-o a manter todo o jogo sob controlo, dando a ideia de que, como ele, os jogadores não se queixam... falam.
Os árbitros assisntentes ajudaram à perfeição, uma vez que não notámos nenhuma decisão errada nos foras-de-jogo e foi um destes que assinalou (bem) o penalty cometido por Beto sobre Liedson. Exibição exemplar.

OBS.: avaliação com notas de 1 a 10